segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Tríplice Aliança

Além das ocasiões de escalada na cumplicidade, isto é, quando do namoro surgiu o noivado e quando deste veio o casamento, em três situações tirou a aliança do dedo.

Na primeira, ela enlaçava seu anelar direito. Já há alguns dias exibia com orgulho aquele brilho que lhe custara o salário de toda a primavera. Como durante o verão algumas flores iniciariam um vagaroso processo de recolhimento antes que chegasse a estação seguinte, ele então decidiu trocar as visitas à floricultura (onde encomendava os arranjos multicoloridos) por uma à joalheria. Cinco meses de namoro não eram pouco; na verdade, nenhuma das três garotas anteriores havia aceitado seu jeito errado por tanto tempo. Contudo, não restava dúvidas de que ela o conquistara muito mais do que o inverso. Por isso, naquela aliança estava gravada uma mensagem de agradecimento, mensagem tão apurada que só ela podia sentir.

Naqueles tempos, eles ainda se amavam. Muito. A ponto de rirem um do outro; de discordarem quanto à banda favorita, mas não quanto à música do casal; de não desgrudarem as mãos suadas; de se beijarem como se suas bocas unidas dessem corda em seus corações, para que eles continuassem pulsando. Sim, se amavam, e ele poderia reconhecer a cor dos olhos dela entre outras 999 tonalidades de verde, embora não pudesse nomeá-la. E, agora, havia a aliança para os protegerem contra más venturas: se acaso eles se desentendessem, não poderiam romper seu vínculo, pois isso implicaria em retirar a aliança que, de tão justa, não poderia se desgarrar sem arrancar uma lasca de alma pura.

Ele, entretanto, acabou por aceitar a recomendação de um professor para que mentisse não estar comprometido na entrevista para uma bolsa de estudos na Suíça. Os examinadores costumam supor que aqueles que namoram ou abandonariam a bolsa antes do fim e retornariam por saudades da pessoa querida ou o relacionamento a distância não daria certo, prejudicando a dedicação, a sobriedade e o fígado do estudante. A apenas alguns segundos do momento da entrevista, ele decidiu que seria essa a coisa certa a se fazer: girou a aliança para fora e a guardou no bolso às pressas. Chegou a confessar isso a ela, que, quando acabou de se revoltar, acabou por compreender. O pobre rapaz não foi, contudo, contemplado: perdeu para um candidato que falava três idiomas a mais e que, no dia da seleção, não tinha uma marca vermelha no dedo anelar direito.

Da segunda vez em que deixou sua mão nua, a aliança não era mais prateada, e sim dourada. Discreta, como a atitude deles em público agora. As mãos continuavam entrelaçadas, mas se soltavam à menor necessidade, como pessoas ou postes no meio do caminho. Já não havia mais madrugadas como antes, porquanto a relação estava sossegada como a aurora. Por que ele se incomodava agora se o cabelo dela (que, afinal, só era mesmo sedoso quando ela gastava meia hora aplicando cremes e loções) não conseguia cobrir a ponta de suas orelhas? Seria possível que ela nunca havia reparado que os dentes dele eram realmente tortos, assim como os horríveis dedos do pé? Como se eles não fossem felizes, como se não concordassem satisfeitos que tinham uma história juntos bem mais interessante que o roteiro de qualquer filme romântico.

Desta vez, o consentimento dela veio antes e de imediato. Ele havia rompido um ligamento no pulso e lhe fora solicitado um exame de Ressonância Magnética. Antes de imergir na barulhenta máquina, uma auxiliar de um metro e meio de altura pediu gentilmente que ele se livrasse momentaneamente de qualquer objeto metálico, o anel incluso – exatamente como sua noiva disse que seria necessário. Foi um pouco mais penoso que da vez anterior, uma vez que ele já estava bastante acomodado no dedo, mas logo conseguiu se separar do pequeno grilhão.

Quatro anos e meio depois, foi a vez dela. Primeiro, sua barriga se moldou no formato de um mundo perfeito para um nascituro. Então, faltando dois meses para que o bebê não se contivesse mais dentro de sua mãe, o organismo dela começou a reter líquidos e seus dedos – tão acariciados pelo seu marido por toda a gravidez – começaram a inchar. Temendo que sua aliança tivesse de ser impiedosamente cortada, ela mesma teve a iniciativa de guardá-la em uma gaveta.

A terceira vez em que o homem deixou que o elo de ouro o abandonasse não foi notada. Ele nunca foi capaz de se recordar onde e nem quando isso aconteceu. Só sabia que fora depois da morte de sua mulher, pois jurava que da última vez em que ela, debilitada em uma cama branca de hospital com os olhos semicerrados, segurou sem forças sua mão esquerda, os anéis se encontraram e tilintaram baixinho.

A mais graciosa das metades do casal agora repousava fria embaixo da sonolência da terra afofada. Em um dos poucos momentos em que estava sóbrio, e não embriagado pelas lágrimas do luto, ele sentiu falta do círculo que o abraçava quando sua mulher não podia. Sendo incapaz de encontrar sua própria aliança, recorreu sem pensar duas vezes à de sua amada, pois ela talvez ainda guardasse lembranças do suor tão puro daquela que não voltaria mais. Repetiu o gesto de seu casamento, mas desta vez era sua própria mão que recebia o aro reluzente. Estavam juntos de novo. Presos um ao outro, não desejavam liberdade.

E não houve uma quarta vez.

domingo, 9 de setembro de 2012

As Capas de Harry Potter pelo Mundo

         Setembro já começou e promete carregar para longe as tão mencionadas agruras do mês anterior. Isso porque, além dos melhores seriados americanos estarem de volta com novos episódios, a verdadeira fundadora de Hogwarts, J. K. (Juscelino Kubitschek) Rowling, vai se arriscar novamente no universo literário e lançar The Casual Vacancy - que, não tenha dúvidas, trata de "trouxas" e nada mais. Mesmo sabendo que não encontrarei nele referências da saga de Hermione Granger e seus dois amigos, confesso estar bastante empolgado para ver como Joanne vai lidar com motes adultos. Obviamente, fiquei ainda mais curioso depois de Michael Pietsch, editor do livro, ter se referido à autora como gênia e ter dito que a história o lembrou de Dickens "por causa da humanidade, do humor, das preocupações sociais, dos personagens fortemente reais". Tendo em vista que seu lançamento se aproxima, nenhum momento seria oportuno para relembrarmos de Harry Potter, a "septologia" que, como a série Friends e o filme De Volta para o Futuro, virou uma verdadeira referência e, como tal, nunca é realmente esquecida (talvez com um obliviate coletivo?).
       Motivado por uma curiosidade repentina, dia desses quis saber como eram as capas de Harry Potter em outros países e, apesar de ter encontrado vários sites a respeito, eu (e minha inseparável meticulosidade) senti falta de um post bem organizado e completo que pudesse indicar aqui; assim, resolvi fazer um eu mesmo. Para isso, percorri a internet coletando várias e várias imagens e, embora não possa dizer que meu post sim está completo, compilei a grande maioria do que encontrei - deixando algumas poucas de fora.
       Vou guardar meus comentários para o final, mas, antes, acho necessário observar que a famosa capa ilustrada pela americana Mary GrandPé para a editora Scholastic é utilizada não só nos Estados Unidos e no Brasil, como na Noruega, Rússia, Israel, Polônia, Croácia, Coréia, Indonésia, Romênia, África do Sul, Turquia, Bulgária, China, Estônia, Lituânia etc. Para evitar repetições, coloquei apenas a versão original, amerciana, uma vez que a única diferença entre ela e as outras são o título e o subtítulo (como você pode ver nessa capa taiwanesa, nessa turca e nessa israelita; já os gregos têm versões da capa inglesa). Vocês vão notar ainda que, por alguma razão, é muito mais fácil encontrar imagens do primeiro volume, «Pedra Filosofal», do que dos demais.
     Eu também peço desculpas por não ter colocado figuras maiores, ainda que valha a pena observar mais detalhadamente algumas. O problema é que são 118 imagens e, se eu as ampliasse, o post ia ficar maior e mais pesado do que já está.


Harry Potter e a Pedra Filosofal





Harry Potter e a Câmara Secreta





Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban





Harry Potter e o Cálice de Fogo





Harry Potter e a Ordem da Fênix





Harry Potter e o Enigma do Príncipe





Harry Potter e as Relíquias da Morte


          Agora, algumas considerações:

- Antes de mais nada: o que são essas capas da Finlândia??? Absolutamente medonhas!
- E as japonesas? Tenho minhas dúvidas se eles conseguiram captar a essência da história (apesar de terem ficado bem originais). A versão alemã é um tanto caricatural, mas me agradou... A francesa também não é nada mal (em particular a do 7), mas prefiro a espanhola à ela;
- Sobre «Pedra Filosofal» (Philosopher's Stone para os britânicos e Sorcerer's Stone para os americanos): tenho vontade de gritar com tanta bizarrice. Os islandeses, os iranianos e os armênios que me desculpem, mas só posso imaginar que havia algum complô nesses países para boicotar as vendas dos livros! E essa boca no Chapéu Seletor tcheco? Os portugueses, coitados, ganharam essa capa completamente infantil, como se a faixa etária dos leitores de Harry Potter não pudesse ultrapassar os 10 anos (imagine que os ingleses exigiram as capas adultas porque ficavam constrangidos de ler os livros com a capa original em público); felizmente, a partir de «Prisioneiro de Azkaban», a editora portuguesa adotou as ilustrações americanas, da GrandPré. Quanto à holandesa de bolso, eu só fiquei em dúvida se aquelas nuvens estão lá por acaso ou se representam, não sei, o quadribol;
- Em «Câmara Secreta», chama-me atenção a dinamarquesa com uma naja na capa ao invés do basilisco, o qual - até onde se sabe - não possui essa habilidade de dilatar o pescoço;
- Bicuço em 12 das 16 capas de «Prisioneiro de Azkaban»!
- Acho que «Cálice de Fogo» é o único caso em que não tenho muita afeição pela capa da GrandPré, acho que eu prefiro a inglesa ou a francesa.
- Em «Ordem da Fênix», não há tanto consenso quanto ao que retratar: alguns desenharam até os Testrálios, outro a luta final no Ministério (destaque para Harry fazendo beatbox na capa dinamarquesa);
- Uma dica para a Ucrânia: não é uma boa opção misturar roxo com amarelo-marca-texto e verde-limão, como na capa de «Enigma do Príncipe»;
- E é notável que eles capricharam muito na capa de «Relíquias da Morte», a maioria está bem desenvolvida: a francesa, a espanhola, a holandesa, a sueca, a dinamarquesa... Ironicamente, não gosto da capa infantil da Bloomsbury para o livro 7... acho que ela transmite uma ideia muito colorida para uma história tão "sombria" e lúgubre. Sem falar na italiana, a mais estranha de todas;
- Por fim, não sei vocês, mas eu adorei todas as capas da versão adulta da Bloomsbury. Tão lindas quanto são as da Signature Version, ilustradas pela Clare Melinsky, e que estão sendo lançadas agora (R$169,90 na Submarino)... Eu só não compro a coleção toda com essa capa porque, por razões sentimentais, não conseguiria me desfazer da que eu já tenho, com os desenhos imortalizados da Mary GrandPré e as folhas sutilmente machucadas por meus dedos ansiosos.