segunda-feira, 25 de junho de 2012

Parem o mundo. Sério.

Eu detesto entrar em livrarias.
Se alguém perguntasse a pessoas que me conhecem, muitos diriam que eu adoro livrarias. E eu adoro. Mas odeio também. Odeio ver pilhas e pilhas de livros, torres de castelos formados por páginas e páginas esperando ser lidas, milhões - talvez bilhões - de caracteres comprimidos para formar belas histórias... sabendo que eu nunca as lerei todas. E é aí que está o problema. De todas as dezenas de centenas de livros, lerei muito poucos: talvez 100, talvez 500 ou talvez nem isso. Os outros, nunca vou chegar a conhecer. Talvez o melhor livro que eu poderia ler na vida está entre esse "resto" que eu seria obrigado a ignorar. Pior: como escolher dentre tantas opções qual levar para casa? Pela capa? Ah, mas um livro péssimo pode parecer espetacular por fora... Pela sinopse? Mas quantas sinopses atraentes não há! (aliás, não é essa a função de toda sinopse, ser atraente?) Resultado: acabo comprando um livro só ou nenhum, quando a minha vontade era ficar sentado no chão da livraria por anos a fio e poder ao menos folhear tantas as páginas quanto meus dedos aguentarem.
Como se não bastasse a sessão de tortura mental, algum habitante sádico do submundo sobe à superfície a cada dois anos e monta uma bienal de livros. Mais precisamente a Bienal Internacional de São Paulo, provavelmente a maior de toda a América Latina. Sempre que eu vou, eu entro no enorme galpão sorrindo como quem ganha no Natal o presente esperado desde a Páscoa, mas, bem lá no fundo, minha vontade é dar meia volta e ir embora. Por quê? Simples: é muito difícil pra mim encarar a realidade de que eu nunca terei tempo hábil para consumir todos aqueles infinitos (ou quase isso) e irresistíveis livros.
Mas tudo bem, não é sempre que vou a uma livraria e tampouco a uma Bienal, então isso não chega a ser um problema. O problema mesmo é o que me espera quando eu chego em casa: uns 30 livros comprados e não lidos, uma lista de 180 livros que eu não tenho e quero ler, 150 filmes para ver, 115 álbuns para ouvir, 30 blogs desatualizados no GReader e pelo menos uns 1000 sites favoritos (em 6 ou 7 navegadores diferentes) para abrir um por um. Parece pouco? É porque eu não estou considerando os quatro seriados que eu acompanho regularmente, os que eu estou na metade e os que já estão na 4ª ou 5ª temporada e eu nem comecei a ver ou só vi o piloto. Somando tudo, deve resultar em cerca de 12 seriados - sendo que só UM deles (Fringe) tem, aproximadamente, 74 horas até agora.
E ainda não acabou! Não acabou porque o mundo continua girando a mais de 1.600km/h e os únicos seres vivos do planeta que detêm o domínio da linguagem continuam produzindo cada vez mais conteúdo: livros, filmes, séries, revistas, etc etc etc. Solução? A solução não importa, importa a consequência, que é a Síndrome do Excesso de Informação: a síndrome daqueles que sabem que há coisa demais para ser vista, ouvida e cheirada em tão pouco tempo. Talvez nem fosse um problema, se fosse só isso que a gente precisasse fazer da vida, o que não é verdade nem de longe.
O paradoxal de tudo isso é que eu não acho ruim de ter tantas opções para me informar, me divertir ou adquirir conhecimento. Só o que eu queria é que, durante algumas horas, a Terra ficasse em pause para que eu pudesse, enfim, dar conta de tudo isso e ainda me dedicar à escrita.
Na verdade, eu tenho muitas outras coisas a dizer sobre o assunto, mas é melhor eu parar por aqui, porque, como já deu pra notar, eu realmente tenho muito a fazer...

terça-feira, 12 de junho de 2012

À Valentina

“Querida Valentina,

— Eu não sei.
— Essa não é a resposta que eu esperava ouvir.
— Isso eu sei. Eu sei exatamente o que você quer ouvir. Ter as respostas certas foi algo que eu aprendi ainda quando estava tentando te conquistar.
— Você não quer mais me conquistar?
— Olhe fundo dentro dos meus olhos e você vai ver o que significa para mim. Tudo que eu faço, faço por ti, e você sabe que é verdade. Só de estar com você já faz do meu dia o melhor da minha vida. Porém, eu jamais quis te ganhar: você não é um prêmio ou uma recompensa. Você não é minha e nunca será: eu quero que sua alma você a mantenha livre.
— Então dê uma resposta à minha primeira pergunta.
— Desculpe, mas não. Você não pode questionar meu amor. É contra a lei.
— Qual lei?
— A lei que rege todos os relacionamentos, aquela que forja as alianças. Como você espera saber se meu amor por você é verdadeiro por meio das minhas respostas, das minhas palavras? Acha mesmo que eu provaria algo se escrevesse e recitasse um soneto de 14 mil versos rimados dedicados à sua beleza?
— Bom, seria sem dúvida um indício de que gosta de mim realmente. Ninguém faria tal coisa somente por orgulho. Mas você, você nunca faria isso mesmo, não se esforçaria assim...
— Dessa vez, não lhe tiro a razão
E, sim, te direi o motivo
Por que tamanha ilusão
Não me faria afetivo.
Um joguete de palavras e versos
Das letras mais douradas e formosas
Qualquer falastrão de quaisquer universos
O usaria com maestria vergonhosa.
Não procures amor no verbo
Dos homens, pois lá
Só encontrará pompa e garbo.
E, no reduto da elegância,
Apenas a falsidade estará
Não há amor na arrogância.
— Então me responda: se eu não posso crer no que você diz, no que vou acreditar? Como vou saber que me ama?
— Não vai. Como você poderia saber o que nem eu mesmo sei? Qual a feição do amor? Eu não faço ideia. Alguma vez já amei? Para mim, ao menos, o amor é o fim e não o começo; assim, quando eu puder definir o amor, haverei chegado ao limite final da vida, à fronteira intransponível mesmo para os anjos.
— Ótimo, agora você vem com conversas filosóficas! Sua inteligência não vai te ajudar a encontrar o amor, querido... Nem eu vou, pelo visto... Então, quando você sussurrava ou gritava seus “eu te amo” tão clichês, você mentia?
— Não, eu apenas estava sendo inocente. Eu confiava que era amor, contudo talvez não fosse. Pode ter sido paixão, afeto, desejo, apreço, idolatria, veneração, admiração, respeito, medo, ódio, temor, carinho, apego, pena. Mas foi amor?
— O que nos traz de volta à minha primeira pergunta.
— Não traz nosso passado de volta, todavia.
— Você está tentando partir meu coração?
— Eu estaria mentindo se dissesse que não seria fácil. Mas, não, não é isso.
— Você me promete o mundo e eu ainda acredito em você, não sei por quê. Disse que seria meu até as estrelas caírem do céu, até que as rimas dos poetas se esgotassem. Pensar que eu acreditei em você, você que conhecia a porta para minha alma.
— Valentina, é verdade que eu necessito de você ao meu lado para me dizer que está tudo bem. Mas é amor isso o que eu sinto? Querida, eu te quero, eu te quero muito, eu não nasci para te perder! Eu poderia escrever uma canção para te mostrar que você não é qualquer uma, contudo eu vejo pelos seus sorrisos que você já sabe que eu não preciso de outra. Você não tem noção de como você é adorável... E, bem, ninguém disse que era fácil. Talvez eu nunca tenha uma resposta para aquela sua pergunta, mas, ainda assim, você me amará amanhã como me amou ontem?

Assim é como imagino que seguiria nossa conversa após você ter me questionado se eu ainda te amaria amanhã como te amei ontem. Naquele dia, quando fugi calado, quis poupar a nós dois da intensa e improfícua conversa que teci nesta carta. No fim, devolvo-te a mesma questão, sem sequer tê-la respondido. Queria ter coragem de te dizer minhas falas olhando fundo nos seus olhos azuis-turquesa, mas achei que te encarar, nesse momento, seria óbvio demais.
Com amor,”


NOTA DO AUTOR: Essa é uma história inteiramente ficcional. Ao longo dela, há referências à canções de The Beatles, Wilco, Oasis, Keane, Coldplay, Mumford & Sons, Bryan Adams, Arctic Monkeys, Dido, Bee Gees, Whitesnake e Bob Dylan. Boa sorte a quem se dispor a encontrá-las!